No dia 14 de março de 2018, fez três anos que eu pisei em Austin (capital do Texas) e também faz dois anos que eu entrei no avião de volta para o Brasil. Engraçado que nessas duas datas eu estava me sentindo meio feliz, meio triste, meio passada, entusiasmada, assustada, cansada, ansiosa, decidida, querendo partir, querendo chegar, com duas malas, um pouco descabelada, mas de formas completamente diferentes.
Alguns de vocês (aqueles que acompanham a fanpage do Sigo Experienciando) já sabem que meu primeiro mês do sonho sabático incluiu duas primeiras semanas de depressão e cama e outras duas semanas de chacoalhão e reviravolta.
E hoje olhando as fotos de Austin, se passou um filme na minha cabeça. E esse, especificamente, é o tipo de filme chamado “100 anos em 1”.
100 Anos em 1
Quem já morou ou mora fora sabe exatamente o que eu estou falando. São muitas histórias diárias, perrengues, desafios, superações. E tudo é muito intenso. Porém, algumas reflexões mais profundas sobre esse período eu só consegui ter quando sai da cena.
Uma dessas reflexões é que para uma menina da minha geração e de classe média, eu comecei a trabalhar muito cedo (16 para 17 anos). Mas desde criança eu já era super madura e independente, então quando estava saindo da escola e entrando na faculdade já queria ter o meu próprio dinheiro e o meu trabalho para, inclusive, poder pagar a faculdade e as minhas contas.
Além disso, eu estava determinada a seguir o “caminho dos bem-sucedidos” e não passar pelo que meu pai e minha mãe passaram entre trabalhos, mudanças de trabalhos e desempregos que causaram uma instabilidade financeira grande e desestruturaram a nossa vida.
Então eu trabalhei e trabalhei muito. Dias, noites, madrugadas. Horas e mais horas. E de 2003 até 2015 eu nunca mais parei.
Foram 12 anos de trabalho em que só tirei férias de 30 dias uma vez, em 2014 quando eu já estava no meu limite. E não era culpa da empresa, eu que era acumuladora de férias e só me lembrava delas quando alguém me alertava que a segunda estava vencendo.
Não sei porque eu fazia isso, quando via, já tinha feito e parece coisa de louco, mas hoje eu percebo que gostava da sensação de ter muitas férias para tirar. Seria uma espécie de “de repente um dia essa acumulo de férias me libertará para sempre?”. Sinceramente gente, não sei. Coisas do ser humano que até hoje eu não parei para entender a fundo, apenas sei contar.


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ACESSAR DEGUSTAÇÃODurante 28 anos acreditei que o único jeito de conquistar estabilidade era trilhando o “caminho dos bem-sucedidos” ensinado pela nossa sociedade. Desses 28, passei 12 anos focada em atingir expectativas, cumprir horas de trabalho, bater metas, montar power points, fazer apresentações, criar e alimentar planilhas de excel top das galáxias, viajar a trabalho, participar de reuniões, planejar e executar lançamentos, mil e um alinhamentos semanais, ligar o notebook quando chegar do trabalho para trabalhar mais, administrar conflitos em meio a “sambarilovers” e puxa-sacos, receber e dar feedbacks, organizar eventos, convenções, ter ótimo relacionamento intrapessoal e interpessoal. Que mais?
De verdade, eu gostava de muita coisa, porque eu amava o meu trabalho e me sentia confortável para transitar nesse meio em que eu dominava o que fazia. Mas eu não me sentia bem-sucedida, porque sucesso sem felicidade não é sucesso, é ilusão.
Quando decidi abdicar da minha carreira e ir em busca de uma vida com mais sentido, eu achei que estava pronta para desfrutar do tão almejado tempo livre.
Pronta? Risos né. Só pode ser piada… Quem nesse mundo, com o mindset da pessoa que descrevi acima, está pronto para mudar radicalmente, assim, de repente? Não gente, não é simples assim!
Em meio àquele ócio devaneante, eu não conseguia me mover. Passei anos pensando em um dia poder não fazer nada e quando consegui, me desesperei e não sabia o que fazer.
Sabe o que eu pensava gente? “Como eu posso dormir ou tirar um cochilo a tarde enquanto todos estão trabalhando?” ou “Como eu posso estar aqui na beira do lago, passeando, enquanto todos estão trabalhando?”. Duas breves torturas em forma de pergunta, entre outras mil.

Ser de "você" mesmo
Na altura, eu não tinha a consciência de um olhar de fora da cena, como eu tenho agora. E o fato é que eu não era mais a Aline do Hotel, da Franquia, do Marketing, do Trade, do Food Services, do Varejo. Agora eu era simplesmente a Aline. A Aline dela mesma. E minha mente não sabia como lidar com essa novidade porque para ela, a Aline precisava pertencer a algo ou, ao menos, estar onde ela conhecia. Só que a Aline não pertencia à mais nada e não conhecia a ela mesma.
Me lembro que bem no comecinho, no meu primeiro mês em Austin, me sentava à beira do Lake Bird e não conseguia contemplar aquele momento com a paz e a tranquilidade que o lugar proporcionava. Simplesmente porque eu não conseguia ficar quieta e relaxar por todo aquele tempo interminável: 5 minutos.
É isso, essa autossabotagem que a gente faz com a gente o tempo todo. A minha mente foi ensinada que não trabalhar não era permitido e que tempo livre é coisa de gente rica ou estabilizada financeiramente, gente que já se aposentou bem e que não precisa mais trabalhar. Portanto, a juíza de mim mesma, Sra. Mente, não me permitia desfrutar daquele momento que eu tanto sonhei e que estava acontecendo de verdade.
Bom, como eu já contei em artigos do Sigo Experienciando, em um mês eu já tinha uma agenda organizada e cheia de tarefas, estava feliz e entusiasmada, já não me sentia tão despertencente. Ah! Mas eu também já não tinha mais todo aquele tempo livre.
E assim, deixo no ar, essa profunda reflexão diária da minha vida, para a vida de vocês.
Por fim, uma última coisa, há 2 anos, quando eu entrei no avião de volta para o Brasil, eu tinha plena certeza que melhor que liberdade e tempo livre era a experiência de viver livre no tempo para sentir a verdadeira liberdade.
Experienciadora, Aprendedora, Escritora, Coach e Mentora de Vida e Trabalho com Propósito.