Reflexão: Quando eu vejo a dor, eu vejo a cura

Ao escutar essa frase que o Gabriel Goffi falou, recebi um impacto tão profundo que me fez refletir: como posso destilar o veneno das minhas dores para transformá-las em cura?

Na semana seguinte, um dos grupos de accountability dos quais participo trouxe o estudo do livro “Efeito Sombra”. É nas sombras que residem muitas das dores, das feridas, toda a vulnerabilidade e traumas, tudo o que foi guardado, com vergonha de existir, e não pôde ser transformado.

Eu sentia minhas sombras me chamar, precisava encontrar,encarar, destrinchar em suas partes para jogar fora o que não me pertence e ressignificar a parte que me cabe. Sim, ao se deparar com a sombra e olhar de fato pra ela, é possível ver que é composta por um conjunto de frases, eventos e crenças nem sempre suas que formaram sua crença atual, essa que te gera dor.

A dor às vezes se mostra como um pequeno incômodo, algo que apenas parece não ir muito bem, noutras vem com tamanho ímpeto que paralisa inclusive o raciocínio e nos torna agressivos para que ela cesse. Porém, a luta não é contra a dor, não adianta se anestesiar (fugir) da dor se a causa não for tratada.

Como alguém que passou boa parte da vida à mercê da depressão e dos sentimentos, sem aceitar a ditadura do não-sentir, não foi difícil enxergar que me manter nas sombras e deixar que suas vozes me derrubassem seria retornar à minha prisão.

Como eu decidi ser livre, depois de me deparar com minhas sombras, fui buscar um fio que me ligasse ao presente, uma questão-chave que me auxiliaria a retornar das sombras para meus objetivos com sucesso, a linha de raciocínio que me salvaria do olho do furacão.

Mesmo preparada, munida das ferramentas, questões e todas as dicas de coach, da psicologia, do desenvolvimento humano, a batalha real é interna e não será menos dura. A vontade é de fugir, a sensibilidade fica à flor da pele, o mundo externo entra num silêncio ensurdecedor, o que consegue me tocar tenho vontade de revidar, atacar, me defender, julgar, condenar, quase num movimento involuntário para que me firam em outro ponto para amenizar este que me dói. Muitos falam de maturidade emocional como se fosse a perda da intensidade da adolescência, mas que maturidade é essa em que se perde a sensibilidade de ser feliz com as pequenas vitórias?

As sombras muitas vezes emergem como um autoflagelo, se sentir na m****, mas não preciso escutar o grito exagerado além da dor, preciso apenas localizar o ponto inicial de toda a infecção, limpar, esterilizar,suturar e aguardar sua melhora. Limpar, como já mencionei acima, é separar oque é carne da sua carne e o que não é; esterilizar é enxergar a intenção positiva e a história redentora onde aquela vivência se torna um valor a ser agregado; suturar é interiorizar novos valores que te façam bem e mostrem que ador não retornará; aguardar é saber que tudo é um processo e como todo processo é necessário dar tempo a si mesmo a cada passo de modo a ser bem finalizado,evitando inclusive as cicatrizes.

Conhecer os passos e algumas técnicas nem sempre facilitam a caminhada, porém é como ter um mapa e evita de se perder do meio do caminho,num pântano interno qualquer. E nunca voltamos a ser o mesmo dessa jornada interna, a intensidade e sensibilidade são apuradas e podemos viver cada pequeno passo como aquele primeiro baby step comemorado por tantos pais.